Questão 01
(AFA) TEXTO I]
Carta
Nela [terra], até agora, não pudemos saber que haja
ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem
lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim
frios e temperados, como os de Entre Douro e Minho,
porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.
As águas são muitas; infindas. E em tal maneira é
graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo,
por bem das águas que tem.
Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me
parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a
principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.
E que aí não houvesse mais que ter aqui esta
pousada para esta navegação de Calecute, bastaria.
Quando mais disposição para se nela cumprir e fazer o que
Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da
nossa santa fé.
(CAMINHA, Pero Vaz de. “Carta”. In: PEREIRA, Paulo Roberto Dias.
(Org.) Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 1999, p. 58.)
Assinale a alternativa INCORRETA sobre o trecho da “Carta” de Pero Vaz de Caminha:
a) O uso dos verbos “saber” (l. 1) e “ver” (l. 3) e da conjunção “nem” repetida (l. 2) mostra a importância que o ouro, a prata e outros metais tinham para o destinatário
da carta.
b) O emprego da conjunção adversativa “porém”, no primeiro parágrafo, introduz uma ideia contrária à expectativa do destinatário.
c) A presença do conectivo “porém”, no terceiro parágrafo, introduz uma ideia contrária à contida na expressão “…dar-se-á nela tudo…”, no segundo parágrafo.
d) Os substantivos “fruto” e “semente”, no terceiro parágrafo, apresentam sentido denotativo, acompanhando o sentido do verbo “dar” na expressão: “…dar-se-á nela tudo…”
Questão 02
(AFA) Texto para as questões 02 e 03.
TEXTO II
Canção do exílio
(Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Coimbra, julho de 1843
(BARBOSA, Frederico (Org.). Clássicos da poesia brasileira – antologia da poesia brasileira anterior ao Modernismo. São Paulo: O Estado de São Paulo/Klick Editora, 1997, p. 66-67.)
Sobre os recursos estilísticos presentes na construção do Texto II, assinale a alternativa INCORRETA.
(A) Nos versos “As aves, que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá.”, a supressão das vírgulas altera a classificação sintática da oração subordinada mas mantém o sentido
ufanista proposto neste trecho.
(B) A redação do termo “Sabiá” com inicial maiúscula é uma prosopopeia que não interfere no sentido ufanista proposto pela “Canção do exílio”.
(C) Comparando-se os versos 09 e 15, observa-se que o sentido básico de ambos é o mesmo, porém a representação da solidão passa por um processo de gradação, sendo mais enfática no verso 15, devido à substituição das vírgulas pelos travessões.
(D) A repetição do pronome “nosso(a)(s)”, na 2ª estrofe do poema, é um recurso linguístico que tem por objetivo enfatizar a superioridade da terra natal do eu lírico em relação à terra estrangeira.
Questão 03
(AFA) Gonçalves Dias é um profundo conhecedor da língua brasileira, sabendo usá-la com grande proveito poético. Considerando esse fato, assinale a alternativa correta quanto
à composição da primeira estrofe da “Canção do exílio”.
(A) A ausência de adjetivos dificulta a idealização romântica da terra brasileira.
(B) O emprego de verbos diferentes (“gorjear” e “cantar”) tem o objetivo de separar as aves de uma terra e de outra.
(C) A delimitação de espaços opostos é marcada pelos advérbios “aqui” e “lá”.
(D) Os substantivos “aves” e “Sabiá” são empregados como sinônimos.
Questão 04
(AFA) Texto para as questões 04, 05 e 06.
TEXTO III
A Pátria
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! jamais negou a quem trabalha
o pão que mata a fome, o teto que agasalha…
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!
Criança! não verás país nenhum como este:
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
(BILAC, Olavo. Poesias infantis. Rio de Janeiro, Minas, São Paulo: Francisco Alves & Cia,1904, p. 114-115.)
O poema “A Pátria”, de Olavo Bilac, está inserido no livro Poesias infantis, publicado em 1904. No prefácio daquela publicação, consta o seguinte trecho:
O autor deste livro destinado às escolas primárias do
Brasil não quis fazer uma obra de arte: quis dar às crianças
alguns versos simples e naturais, sem dificuldade de
linguagem e métrica, mas, ao mesmo tempo, sem a
exagerada futilidade com que costumam ser feitos os livros
do mesmo gênero /…/
O que o autor deseja é que se reconheça neste pequeno volume, não o trabalho de um artista, mas a boa vontade com que um brasileiro quis contribuir para a educação moral das crianças do seu país.
Considerando esse trecho do prefácio e o poema “A Pátria”, assinale a alternativa correta.
(A) A estruturação do poema com a presença de versos livres confirma o que se diz no prefácio sobre “versos simples e naturais, sem dificuldade de linguagem e métrica”.
(B) A interlocução entre o eu lírico e uma criança, somada à mensagem ufanista do poema, é coerente com o objetivo pedagógico proposto no prefácio.
(C) Ao abordar o objetivo de “contribuir para a educação moral das crianças”, o autor faz uma crítica à imoralidade dominante na vida cotidiana do início do século.
(D) Ao destinar o livro às escolas primárias, o autor deixa claro que a obra não é adequada para a leitura do público adulto.
Questão 05
(AFA) Assinale a alternativa correta referente ao poema “A Pátria”, de Olavo Bilac:
(A) Os pontos de exclamação ajudam a reforçar o tom imperativo do poema, marcado pelo uso dos verbos amar, olhar, ver e imitar.
(B) Em “A Natureza (…) / É um seio de mãe a transbordar carinhos”, o eu lírico vale-se da ironia para mostrar que a Pátria é mãe carinhosa só para certos filhos.
(C) O poema exalta a Pátria, mas mantém o senso crítico ao abordar, na primeira estrofe, o problema dos insetos perigosos para a agricultura.
(D) Fecundar a terra com o suor do rosto (penúltima estrofe) é um modo literal de dizer que o trabalho é importante para quem quer se enriquecer no Brasil.
Questão 06
(AFA) Comparando os textos I, II e III, julgue como Verdadeira (V) ou Falsa (F) cada assertiva a seguir, considerando os recursos linguísticos empregados com a finalidade de
demarcar no espaço a posição do emissor da mensagem.
( ) O advérbio “lá” (Texto I, l. 5 / Texto II, v. 4) indica que os locutores de ambos os textos estão no mesmo espaço geográfico.
( ) O advérbio “aqui” (Texto I, l. 12 / Texto II, v. 3 / Texto III, v. 4) refere-se ao mesmo espaço geográfico em todos os textos.
( ) O pronome demonstrativo “este” (Texto III, v.2) refere-se ao mesmo lugar que os advérbios “aqui” (Texto I, l. 12) e “lá” (Texto II, v.4).
A partir da análise das afirmativas, é correto concluir que
(A) todas estão corretas.
(B) todas estão incorretas.
(C) apenas uma está correta.
(D) apenas duas estão corretas.
Questão 07
(AFA) Texto para as questões 07, 08 e 09.
TEXTO IV
Canção do expedicionário
(Guilherme de Almeida)
Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse “V” que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.
Você sabe de onde eu venho?
É de uma Pátria que eu tenho
No bojo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreiro,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina
Onde canta o sabiá.
/…/
(POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO FEDERAL. Departamento de Educação e Cultura. Disponível em https://dec.pm.df.gov.br/images/pdf/Hinos_e_Cancoes_Militares _-_reduzido.pdf. Acesso em 24/03/2022.)
A descrição do espaço geográfico na “Canção do expedicionário” é mais abrangente em relação à “Canção do exílio”. É o que se comprova na estrofe:
(A) “Por mais terra que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;”
(B) “Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,”
(C) “Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,”
(D) “Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina
Onde canta o sabiá.”
Questão 08
(AFA) A primeira estrofe da “Canção do exílio” estabelece um diálogo mais específico com a seguinte estrofe da “Canção do expedicionário”:
(A) “Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco”
(B) “Por mais terra que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse “V” que simboliza
A vitória que virá:”
(C) “Você sabe de onde eu venho?
É de uma Pátria que eu tenho
No bojo do meu violão;
Que de viver no meu peito
Foi até tomando o jeito
De um enorme coração.
(…)
Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina
Onde canta o sabiá.”
(D) “Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.”
Questão 09
(AFA) Analise a definição do substantivo “exílio”, extraída do dicionário Novo Aurélio Século XXI:
exílio (z). [Do lat. exiliu.] S. m. 1. Expatriação, forçada ou
voluntária; degredo, desterro. 2. O lugar onde reside o
exilado. 3. Fig. Lugar afastado, solitário, ou desagradável de
habitar.
Sobre a possibilidade de interpretação desses sentidos nos textos I, II, III e IV desta prova, assinale a alternativa INCORRETA.
(A) No texto I, Pero Vaz de Caminha, na descrição da terra em que se encontra, caracteriza-a como “Lugar afastado, solitário, ou desagradável de habitar”.
(B) No texto II, o “lugar onde reside o exilado” está marcado pelo advérbio “cá”.
(C) No texto III, não são encontradas evidências de que o eu lírico esteja passando por uma situação de exílio conforme definida pelo Dicionário.
(D) Considerando os substantivos “fuzil”, “mira”, “bornal” e “cantil”, pode-se inferir que o exílio do eu lírico do texto IV é um lugar “desagradável de habitar”.
Questão 10
(ENEM) Os subúrbios do Rio de Janeiro foram a primeira coisa a aparecer no mundo, antes mesmo dos vulcões e dos cachalotes, antes de Portugal invadir, antes do Getúlio Vargas mandar construir casas populares. O bairro do Queím, onde nasci e cresci, é um deles.
Aconchegado entre o Engenho Novo e Andaraí, foi feito daquela argila primordial, que se aglutinou em diversos formatos: cães soltos, moscas e morros, uma estação de trem, amendoeiras e barracos e sobrados, botecos e arsenais de guerra, armarinhos e bancas de jogo do bicho e um terreno enorme reservado para o cemitério. Mas tudo ainda estava vazio: faltava gente. Não demorou. As ruas juntaram tanta poeira que o homem não teve escolha a não ser passar a existir, para varrê-las. À tardinha, sentar na varanda das casas
e reclamar da pobreza, falar mal dos outros e olhar para as calçadas encardidas de sol, os ônibus da volta do trabalho sujando tudo de novo.
HERINGER, V. O amor dos homens avulsos. São Paulo: Cia. das Letras, 2016.
Traçando a gênese simbólica de sua cidade, o narrador imprime ao texto um sentido estético fundamentado na
(A) excentricidade dos bairros cariocas de sua infância.
(B) perspectiva caricata da paisagem de traços deteriorados.
(C) importância dos fatos relacionados à história dos subúrbios.
(D) diversidade dos tipos humanos identificados por seus hábitos.
(E) experiência do cotidiano marcado pelas necessidades e urgências.
GABARITO
1D
2B
3C
4B
5A
6C
7B
8C
9A
10C
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